Cansada de ser atormentada por meus próprios demônios eu rezo
baixo pelos cantos, tento e tento e tento e tento afoga-los em pensamentos,
porém em vão, pois após tanto tempo imersos na minha alma fria era previsível
que eles aprendessem a nadar... Os gritos estridentes cortam cada pedaço de
sanidade que ainda me resta, é como se tudo fosse perdido dentro de mim, como
se houvesse um universo inteiro dentro de mim, um universo em colapso... Não há
saídas, não há uma luz, uma busca, uma razão, não há nada por que lutar...
Inigualavelmente eu desmorono, caio de joelhos na sarjeta e tento arrancar de
meu peito toda a dor que há dentro de mim, mas isso é como um câncer,
impreguina em cada órgão saudável que temos... Você é meu câncer, minha
metástase, minha dor, meu sofrimento, minha felicidade e meu sorriso, você faz
de mim tudo e nada. Você me perturba com seus olhares penetrantes, com suas
palavras frias e duras, com sua voz suave você me ilude, porém já crava
rapidamente suas palavras letais em meu peito... Qual o propósito disso tudo?
Viver uma vida sem vida, morrer todos os dias e continuar viva? Começo a me
perguntar o porquê de eu insistir em correr atrás, por que não deixar a maré me
levar? E limpar tudo de ruim que há dentro de mim... É, seria bom. Seria bom,
tê-la aqui, para que me faça tudo e nada, que minta para mim, que me mate, que
me ame, me queira.
Não entendo, porque, porque tem de ser assim? Porque temos que
ser “diferentes” aos seus olhos?! Porque você tem que ser meu demônio mais
perverso? Aquele que habita em mim, aquele que cozinha pensamentos suicidas em
minha mente... Porém aquele que cuida de mim, e me impede de coloca-los em
prática? Como te amo! Como te odeio!
Num canto escuro de meu quarto a navalha corta um pedaço morto
de carne, minha carne. E o sangue, meu sangue, sai aos poucos, deliciando-me em
uma sensação de, por um instante, alívio... A dor é forte e contínua por alguns
instantes, porém reconfortante. Sei que não devia, ela não iria gostar, mas me
ajuda. Não, não agora, nem nunca, jurei que não tornaria a me auto depreciar. E
não vou. Mas queria... Não só isso. Queria ela nos meus braços novamente...
Poder sentir os beijos suaves e apaixonados dela, sentir os toques, a pele,
poder amar novamente. Tudo sem ela é assim, vazio, frio e confuso, sem ela os
demônios voltam, e voltam e cada vez piores... Salve-me, por favor... Tire-me
daqui! (A luz se apaga) Morri? Não... Só dormir profundamente por alguns
instantes, e sonhei, por incrível que pareça, que era feliz.
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