domingo, 23 de junho de 2013

Memórias póstumas de uma mente sem lembranças - Parte I

            Estava sentada no sofá colado à janela, aquela imensa janela vendo a chuva cair, a água escorrendo por ela, com uma caneca de café nas mãos, estava e eu a usava para aquecê-las, ao lado do sofá havia uma mesinha com um cinzeiro cheio, uma carta e uma rosa. Coloque a caneca na mesinha e trouxe a rosa ao rosto. Lembrava-me sua pele, macia e suave. A carta era uma carta de amor, porém era uma carta de adeus também... Talvez fosse um até logo, pois por algum motivo eu sabia que não demoraria a vê-la. O café, passado a pouco, era amargo, muito diferente daquele que ela fazia. Aquele sentimento lembrava-me um pouco do que senti ao ler "morangos mofados", era um sentimento solitário, apaixonado, mórbido...
           Passado algum tempo, aquele sentimento tornara-se uma rotina, porém num dia de chuva, assim como o primeiro dia, enquanto estava sentada no sofá colado à janela, vendo a chuva cair, tomando café amargo, ao lado da mesinha que agora possuía um cinzeiro cheio  e um vaso com a rosa que ela deixara para mim naquele primeiro dia, ela voltou. E enquanto uma lagrima rolava meu rosto eu disse:
           - Me beija?
           - Te beijo.
           E ali consumamos, num ato de amor carnal, em meio a todas aquelas coisas e lembranças, nosso amor, e com todas aquelas juras de amor, deixei escapar aquele sentimento de antes, por um instante, enquanto estávamos abraçadas, em meio ás caricias eu indagava o porque ela partiu... E então chorei, mas sorria por estar ali com ela, novamente sendo feliz.
           Na manhã seguinte o sol batia na janela e clareava o quarto. Nossas roupas estavam no chão, espalhadas pelo local. Acordei e fiquei observando-a por alguns instantes, sorrindo. Ela dormia tão calmamente, sua respiração suave me fazia suspirar e me fazia perceber o quanto eu realmente a amava. Levantei e preparei um café da manhã para ela, acordei-a com um cafuné e um beijo no ombro nu, enfim ela me olhou sorrindo e beijou-me apaixonadamente. Pegou a bandeja com a minha humilde caneca de café amargo e panquecas. Elogiou minhas panquecas, eram as preferidas dela, e quando tomou um gole do café sorriu e disse:
           - Amargo... Você nunca teve muito jeito pra fazer café.
           E entre um olhar e mais um gole do café amargo ela sorriu, um sorriso bobo e apaixonado. E então eu pude ver em seus olhos que ela também me amava, e que também sofreu ao partir, a´pesar de ter deixado isso bem claro naquela carta, agora eu via isso diante dos meus olhos.
O tempo foi passando e a chuva foi parando, e então foi tudo ficando tão calmo e doce, como o café que ela fazia, e entre as canecas de café, os livros, os beijos e carícias, ela, num dia frio, depois de fazermos "amor", enquanto nossos corpos nus se abraçavam debaixo do cobertor, disse:
           - Eu te amo. - E sorriu.
           - Eu te amo.
           E como naquele dia chuvoso que ela voltou eu sorri de volta e disse:
           - Me beija?
           - Te beijo.

- Mariana Calil

Facebook | Instagram  | 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...